William Barter Gabriel Hanan
Biografia
a sombra do silêncio
Ver o invisível,
transcender à dimensão intangível,
inefável, talvez o incansável vôo do vento.
Estar flutuando e tocar o fundo
do rio com a ponta dos olhos.
Encalhar numa pedra torta e dura,
chamar as perguntas de tempestade.
Inventar é um jeito fácil de fingir.
Nas entre letras estão os intervalos,
invenções das palavras — brechas.
É tudo uma questão de tempo
para acreditarmos nos homens que ensinam.
Homens com mãos de papel, olhos que queimam.
Homens também são palavras,
outros fogem das perguntas.
Todos os mundos que giram dentro em mim,
têm sede e querem a mesma cólica.
Buscam ter as dores de parto,
o gosto cinzento das estradas desertas,
desejam ser tudo numa palavra única.
Dar à luz a uma inofensiva bomba
que nos destrua a sombra do silêncio.
Gabriel Hanan
© Poesia de Uma Vida 1989/2006
Não Sei
Não tenho idéia do tempo,
um sentimento que passa.
Um arco-íris chorando a chuva!
Não tenho gotas no bolso,
pois não sou o dono de minhas lágrimas.
Não sei se o inverno vem,
uma estação quente me assola.
Um vento breve rasga o horizonte!
Não tenho lembranças para chorar,
pois não serei eternamente a mesma pessoa.
Não sei se vale a pena
percorrer os labirintos da alma,
andar em trechos escuros do íntimo.
Onde estão a lua e o sol
quando termina a chuva?
Quero e não sei, mando um recado,
espero sentado à porta do silêncio.
Quando a coragem vem,
cavalgando entre nuvens,
faz-me folhear um íntimo desconhecido.
Destila um mar dentro do labirinto,
levando seus soldadinhos de chumbo
a brincar uma guerra
nas planícies inexploradas da alegria.
Não sei, pois ainda não vi,
nem mesmo senti
o cheiro, o odor perfumado.
Não sei se poderei esperar,
mas sei que vale a pena
sempre querer mais e nunca
ter medo dos cantos escuros,
das canções inexploradas.
O amor é uma guerra
onde a esperança corta como espada.
Um tempo, uma música cintilante
fugindo das garras venenosas do inverno.
Não sei, pois não me é lícito saber!
Invento uma desculpa para
desejar o amor.
Quero e não sei, mando um recado,
espero sentado à porta do silêncio.
Gabriel Hanan
© Poesia de Uma Vida 1989/2006
A Paz
a paz
a paz não está
a paz tem medo
a guerra quer a paz?
em tempos de guerra
o tempo pode ser o pacificador.
bater palmas são bombas nucleares,
sorrir tem gosto de sangue,
e dançar traz o pó do chão
com cheiro de morte
a paz
a paz viaja
a paz sofre a dor
a guerra quer a paz?
línguas são motivos,
até a epiderme sobre a alma
serve de campo de batalhas...
onde estão as cores da primavera?
a intolerância não quer calar,
anda de punhos rijos, de alma seca,
matando com fé, sem temer o juízo.
a paz
a paz está vagando
a paz no útero
a guerra quer a paz?
o mundo está nas telas,
e não sai dos jornais. o mundo
tem gosto de petróleo, fumaça, sabor
de pólvora. o semblante
da agonia o persegue, explodindo nas esquinas.
a paz
a paz quer uma chance
a paz no umbigo do mundo
a guerra quer a paz?
se um dia tivemos paz, a história
não nos contou. três letras órfãs,
perdidas em tanta ignorância,
pagam pela vida de quem nem a conhece.
o planeta clama e não mais quer
ser um brinquedo nas mãos do egoísmo.
o mundo quer que a vida dê à luz
a essa criança chamada PAZ.
Gabriel Hanan
© Poesia de Uma Vida 1989/2006
Biografía:
Nascido em São Paulo aos 9 de março de 1974, logo em seguida retornando a Minas com meus pais. Fui criado no interior deste Estado, onde permaneço até então. Tomei gosto pelas letras desde muito cedo, observando meu pai a ler o jornal pela manhã, aprendi a apreciar a leitura e a escrita. Já na adolescência tinha meu primeiros escritos. Publicitário por profissão, mas jornalista por convicção escrevo fazendo a leitura do mundo, nas entrelinhas e entreletras da vida, no silêncio e no absurdo.