Dionisio Teles [Cónsul - Barueri - Sao Paulo]
Biografia
AH ! SE ALGUM DELES TE VISSE
Ah! Se Jorge Amado te visse
Antes que eu te encontrasse
Talvez ele não escrevesse
Os romances que escreveu.
Talvez se apaixonasse
E, por paixão ou por medo
Mudasse todo o enredo
Tirasse o cravo e a canela
Colocando no lugar dela
Você, mulher... Dona Flor
Quem sabe até... uma heresia !
Mudasse de Salvador.
Ah! Se Caymmi te visse
Antes que eu te encontrasse
Talvez ele não compusesse.
Marina, teria outro nome
Na certa seria o seu.
E ele, homem de fé
Talvez se tornasse um ateu
Iría ao Bomfim à pé
Somente para proclamar:
João Valentão fraquejou
E o “doce morrer no mar”
Morreu ao te encontrar.
Ah! Se Caribé te visse
Antes que eu te encontrasse
Talvez ele não pintasse
As cabeças de filho-de-santo.
E ele, que era inquieto
Talvez se acostasse num canto
Clamando a Iemanjá seu afeto.
Talvez não pintasse as mulheres
Negras esculturais
Talvez só pintasse você
Outra mulher, nunca mais
Turista algum há de ver.
Ah! Se Mario Cravo te visse
Antes que eu te encontrasse
Talvez ele não esculpisse
No cobre, no ferro ou latão
A sua obra-prima seria
Somente buscar a moldura
Arrancar toda a luz do dia
E você seria a escultura
Eternizando o momento
Na lente da fotografia
A sua segunda paixão.
E assim, congelando a emoção.
Ah! Se Vinicius te visse
Antes que eu te encontrasse.
Talvez ele não poetasse.
Seria impossível um poema
Não mais, a Garota de Ipanema
Não sairia nem mesmo um fonema.
Tudo porque sua manha
Inibiria o “Canto de Ossanha”.
E o poetinha de Arrastão
Louco, se poria a declamar:
Sei lá... a vida tem sempre razão
Eu sei que vou te amar.
Ah! Se algum deles te visse
Antes que eu te encontrasse
Talvez eu não existisse.
QUEDA ABISSAL
Tênue !
Delgado !
Fraco !
Ele não resiste.
Balança !
Afrouxa !
Se desprende !
E cai !
Cai, como uma folha seca
Num vôo suave de pluma
Silencioso
Como uma asa-delta
Sem o seu condutor.
E o percurso de apenas centímetros
Parece uma queda abissal.
Cai, mais um fio de cabelo !
Falam que é próprio da idade
Que e só mais um pelo
Mentira !
Cai, na verdade
Mais uma ansiedade
Uma angustia no coração
Uma contrariedade
O fim de uma paixão
Ou o início de uma tensão
Cai, no travesseiro
Cai, no chão úmido do banheiro
Cai, mais um fio de cabelo
Não é somente um pelo
É o tempo passando ligeiro.
MALDADE ! PURA MALDADE !
Maldade !
Maldade você fez !
Você, na flor da idade
Sabendo da minha carência
Embora com toda a vivência
Me encanta !
Embasbaca !
[ou babaca ¿]
Me mostra a sua verdade
Depois escapa de vez.
Maldade !
Pura perversidade !
Um homem da minha idade
Com sede de beduíno
Estando ao lado do poço
Espera voltar a ser moço
Fazendo papel de menino
Brincando de ser mocinho.
Mau ator !
Interpreta o texto sozinho.
Maldade !
Sem dó, nem piedade !
Beleza é a tua riqueza
Me compra a preço qualquer
Me joga num quer-e-não-quer
E basta um olhar, um sorriso
Destrói minha fortaleza
Soterra o pouco juízo
Afunda meu amor próprio
[próprio ¿]
Agora, um amor-impróprio.
Comprei, na verdade, tristeza
Maldade !
Que infelicidade !
Pago, sem necessidade
Por não escutar a razão
É tempo... te esquiva !
Sabes que a tua sina
Ao lado desta menina
É ficar em carne-viva
Braseiro no coração
Destroços de um furacão.
Estive na Fonte da Juventude,
de Ponce de Leon
e não bebi um gole.
Maldade !
Pura maldade !
Biografía:
Formado em Administração de Empresas, é empresário da área