Diadema do rei
No idílio doirado ensarta
o machado e fenda das trevas
de longe envia sua fístula
para tungas e matacanhas
veja o fascínio do cabrestante
Em cada fresta e ângulo deixa
de desenguiço um traço místico
por cada ocular rasgo de glória
tentacular febre no esterco desenriça
Seu esplendor epipétalo desabrocha
num espectro e dom de bomba
magistral gume de ogiva desencrava
e bem desbrava do umbral até o auge
Sua batuta de melúria cá deslumbra
sonho de estrado em nós semeia
a cada verme um quê de tritão
um pedaço de génio e propensão
Arrasta e dá consigo a debuxar
ateando émulo entre os barões
no ardor e pulso transbordante
para o pedestal da majestade puxa
Espartilha com poder indeslindável
e no mural condão de lendas roça
na aurora ténue estrondoso bate
e num olhar a fama toda de Sansão
Ei-lo pulcro possante rei distante
campeão valente entre os titãs
vê-lo no astral do seu comando
pinta de nígua e dó estes coiós
Dragão-imperador não é justo título
de todo alcance não há semântica
seja inigualável brasão de charme
ostenta independente o seu reinado
Implacável super ninja só mesmo ele
Não há Mana nem Totem nem Hércules
nem conclave de musas e deuses catando
alguma trincha de empulsão e inspiração
Novissíl de Fasejo, 10/04/09
Do mar
Mar teu nome é dissonante caminhar
teu sorriso é sedução de novo mundo
semblante espúrio arfante de liberdade
teu umbigo traz o vil dom da sepultura
teu balanço faz cultura entre mareantes
de silêncios amargurados da velha guarda
a minha raça ainda hoje te guarda nojo
Do mar poder discricionário impune
nome sagrado e tenebroso refrão do povo
do mar gigante feroz lobo maior
ninguém se gaba e sai ganhando
Do mar condão na sua gana se expandir
da força descomunal jacente e bem tenaz
alguém nenhum duvida e põe em causa
Do mar garra brandidora e desgalante
brande sonho brande ânsia brande ferro
brande tudo até farol de Fharo ousa brandir
Do mar largo vasto grande e indiferente
não há memória dum colosso tão potente
na vibração do seu mortal poder enganador
Mar o teu esforço arrasador prenhe de fome
arrasta para o inferno tanta coisa imerecida
mata mata enterra tanta gente mel andante
na travessia do teu canal e brutal eldorado
engoles cru engoles vivo a própria terra engoles
porque és guloso e ganancioso e boca larga
Matas porque és canalha vilão e não te importas
matas sem querer matas sem saber matas sem prazer
mas o teu amor é expansionista doce e fascinante
assim nu de passadista a chantagista paredes meias
suspiras o único instinto que te contém e mantém
aliciar com aura mágica coçar os inocentes matá-los
Mar tem piedade dos remadores que te procuram
e são pobres mal quistos neste pântano e reino meu
tem também piedade dos ninjas que te incriminam
com o único intuito se safarem de pardos legalistas
porque estes ainda são piores que cobras e leopardos
tem piedade sobretudo dos pescadores e são porreiros
Novissíl de Fasejo, 11/04/09
Lugar selecto
Diva maior, quanto do teu olhar
me já não foi mel e puro encanto,
anel entre noites, sonhos de luar
na cancarã da minha cruz e pranto?
Um livro inteiro por acertar,
na cela e pacatez deste recato.
Destino bom que dá de me apertar,
contra regaço estreito e teu regato.
Assim de longe, em doce neblina,
e a bênção te mandar por esta via,
algures sorteando ás numa colina.
Couceiro que vou nesta embalagem,
pluma gasta, andar de cotovia,
degradé em sua pele de passagem.
Novissíl de Fasejo, 19 de Abril 2009
BIOGRAFIA
Nivíssil de Fasejo é o pseudónimo poético de Domingos Landim de Barros. Nasceu a 12 de Setembro de 1971, na localidade de Ribeireta, no Concelho de São Miguel. Vive e trabalha na Cidade da Praia há mais de 30 anos, licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa.
É membro da Ordem dos Advogados de Cabo Verde e membro da SOCA – Sociedade Cabo-Verdeana de Autores.
Publicou um livro de poemas com a SOCA Editora, O DIADEMA DO REI.
landim
landimdebarros@hotmail.com