O que na areia escrevo às conchas confesso trabalho sempre no limiar da efémera palavra no renovar das páginas que me descobrem lento deslizar da noite que adormece gritando Só o mar é o meu editor mergulho para actualizar a escrita aquática edito os meus textos ao ritmo gramatical das algas Das palavras presas nos adjectivos corais algumas letras emergem para respirarem para se lembrarem das areias onde nasceram depois regressam para um poema perdido nessa insondável acrópole onde respira também o meu peito insepulto
Um dia baixarei aos oceanos
De onde vem o cheiro seco da consciência a nadar Desse mar de pedras feito da multiplicidade dos desertos ou das brechas que abres na perfeição fictícia dos muros
Procuras o silêncio distante a ecoar ressonâncias de quê Se a música nos intervalos das ondas sobe iluminada sobre as pedras evitando os cardumes
Continuas a pisar desejos nos degraus do sonho mesmo sabendo da aproximação da espuma dos dias da velocidade crepuscular das vagas de solidão
Um dia baixarei aos oceanos voltarei sobre as ondas cúmplices para te ensinar o desespero de viver como uma forma de amor
E a memória se dissolve nos limos
No mesmo instante em que explodíram as nuvens lançei-me ao mar deixando o camarote para trás Como explicar a tempestade desta atracção às aves e coisas que morrem às almas aprisionadas em vagas de cimento ou aos dedos exaustos de tocarem sempre a mesma música Fosse do que fosse passei a integrar a suavidade densa daquele corpo líquido numa impossibilidade absoluta de solidão Como uma dança os gestos se tornaram transparentes na íntima fluidez onde se escreve quando anoitecem as águas por entre o borbulhar da permanente curiosidade dos peixes e a memória se dissolve nos limos que nada podem queimar
biografia:
Algumas notas biográficas
João do Carmo [de pseudónimo João Martim para a poesia], nasce a 9 de Fevereiro de 1953 em Lisboa, Portugal. Pintor, poeta e professor de Artes Visuais. Começa a escrever poesia [1985] em cadernos de pequeno formato que vai coleccionando sem outro intuito.
A partir de 1995 escreve incessantemente, completa e refaz uma série de poemas - Lápis de Vida- noturnos em imperceptíveis tonalidades, escritos entre 1995 e 2001, e inícia nova série - 2 Prelúdios antes do amanhecer. A partir de 2001 recomeça a pintar uma série de 18 quadros intitulados Cenários - teatros da forma, inspirados em poemas e textos de prosa poética por si feitos em 2000. Em 2002 continua a pintar esta série de quadros, que concluirá já em 2003 com vista a uma exposição individual em Abril de 2004. Continua a escrever nova série de poemas - De que plasma agora sou. POIESIS VII - Colectânea de poesia e prosa poética - Editorial Minerva, Maio 2002. O ESTADO DO MUNDO - Poema colectivo, edição em livro e CD. Coimbra, Abril 2004. Participa e colabora em revistas e jornais de literatura e poesia e em sítios na Net nos canais portugueses - O Fulgor da Língua [no âmbito das comemorações de Coimbra capital portuguesa da Cultura]; Círculo de Cultura Portuguesa, Refúgio de poesia, Poesia e Prosa, e nos brasileiros Nave da palavra e Arte da Palavra. 3º Festival - PALAVREIROS - Día Mundial de la Poesía “Por la unión de los pueblos através de la poesía'edición del año 2004 - homenaje: 'Pablo Neruda - 100 años 1904 - 2004. ELOS DA POESIA - Colectânea de 300 páginas de 12 autores contemporâneos portugueses,edição simultânea em Paris e Lisboa, Novembro de 2004. Colabora com ilustrações e edita poesia nos cadernos da colecção VIOLA DELTA do grande poeta e amigo Fernando Grade. VIOLA DELTA XXXVII - Poemas sobre a Terra natal e outros. VIOLA DELTA XXXVIII – Poemas sobreViagens e outros. VIOLA DELTA XXXVIX - Poemas sobre o Cão VIOLA DELTA XL - Poemas sobre a à gua e outros textos. VIOLA DELTA XLI - Poemas sobre Bocage e outros textos. Edições Mic. Coordenação Fernando Grade, 2004-2005 ELOS DA POESIA - Colectânea de 300 páginas de 20 autores contemporâneos portugueses, edição simultânea em Paris e Lisboa, 2004. DE QUE PLASMA AGORA SOU - Poesia, a editar em 2006.