Iva França Galvão de Carvalho
Professora de Literaturas de Língua Portuguesa e L
Nationality: Brasil
Email: ivafranca.galvao@gmail.com
Professora de Literaturas de Língua Portuguesa e L
Nationality: Brasil
Email: ivafranca.galvao@gmail.com
o poeta desembaraça o nó
soltando hiatos quando está em tristeza,
devastado em dor, sufocado até pelos pingos dos is
quando feliz, rompe as amarras,
grita, tomado pelas letras
que dispõe no papel
sua glória é multiplicar o corpo das palavras afiadas,
palavras de beleza superior, para
dizer: desatei o nó da opressão
urra substantivos, advérbios e verbos
rumina metáforas e onomatopeias
que lhe trazem energias. Solta o grito vestido de fantasias.
o grito ora preso e envolto às asas,
pulsa linguagem, coisa frouxa
na ponta do lápis, ansiosas.
o poeta macho ou fêmea
quer a liberdade encantadora
de dizer o que tem por trás dos anseios
e assim, navega pelos silêncios
alheio a tudo que dizem proibido
o poeta grita e privilegia ventos.
Pouco antes de morrer
e o vento soprar as folhas
sobre o teu corpo inerte
é provável que diga:
Tudo se manterá inalterado
a chuva
o vento
o tempo
E assim será.
os amores irão aquecer o estio
da passagem. Tudo se fará límpido.
Quase intacto, o tempo cairá esquecido
e a saudade silabada, agora apreça
virtudes escondidas no aroma que a
mulher de fibra deixou pelo caminho
aroma do cozido
da canção de ninar
do seio
do gozo.
Estou a muitos passos do pôr do sol
se eu pudesse, tomava o trem que
me leva até lá, onde dorme o rouxinol
Embora eu saiba que
quero mesmo vê-lo nascer
para certificar qualquer
momento que coloque
A humanidade no prumo
sem esquecer o ontem
porque acredito que juntar os pedaços
dói demais com os embaraços
Ademais, o lamento do canto
não pode ser maior que a certeza
do nascer do sol no recanto
Bem-te-vi - Dedicado ao escritor Manoel de Barros.
choveu goiabada e tudo ficou rosado
e o teu canto ainda a tocar os ouvidos
cinderalizavam na revoada
passava tudo, o vento, as folhas
e os meninos e meninas serelepes
liam lábios açucarados
passava tudo, tudo mesmo,
nas casas construídas na palha do chapéu manoelino
bem te vi avoada na de número 13
ouvindo o cantor bem-te-vi
gorjeando a todo vapor
na Maria fumaça que passa ali na frente
um dia aqui, outro acolá
o faceiro ispia aquelas goiabas no pé
e enche nossos olhos de prazer
bem te vi passar devagarinho
atravessando as manhãs
às vezes lento, outras vezes tempo
foi assim que se deu a história:
as flores florindo
e cada um com seu dom, sorrindo.
quadrantes transformam horizontes dormem lá fora margaridas e camélias
à espera do amanhecer de passarinhos
cantantes
tudo é perfumado e febril
quando sons se instalam pelo ar
e adulteram o silêncio
Amanheceu, é sol outra vez e a lua
agora morna, adormece aguardando
o quarto minguante
em cios verões
numa lua que ainda não minguou
os vagalumes antecipadores das noites claras
mergulhados em mel de abelha
sopram húmidos ventos
rebuliçam a lua cheia
tocam o gozo vagaroso
e as folhas deslizam paisagem afora
cada ciclo é transportador do êxtase
e o jardim sua entorpecido néctar
tudo é esplendor e calmaria
O outono cai baixinho
e a seiva inunda o caminho
das flores, trazendo esplendor.
As nuvens brincam com o sol
de esconde-esconde num vigor
incessante. Há alegria no girassol
e o bem-querer transborda amor.
O amor-mais-que-perfeito
exala o néctar refeito
pelo beija-flor azul e os
meus sonhos deambulam coloridos
Fico nesse êxtase até anoitecer
acompanhando os suspiros
do meu jardim, pois a lua vai aparecer.