Do punho à rosa.Na humana condição, as mãos
que unem e dividem.
Na fonética do mundo
o estrondo engatilhado,
que se cinge à cintura
em dedos que só sabem
apertar.
Punhos são, de pedra,
e têm urgência
em franquear de sangue
a Humanidade.
Entre a carne que atingem
e a justeza
não há meninge nem meridiano
que nos valha.
A clareza virá
quando à proa dos impérios
uma rosácea de mãos
se fizer onda
no mistério esperado
de um róscido amanhecer.
Da boca ao beijo.No limbo estão os lábios
que debruam a boca.
Nos pespontos da cosmética
a língua
que desponta, breve,
em todos os sentidos
quando falas.
Na seda rosa
e incerta
desenha-se,
em sulcos verticais,
a vinha;
o mosto inconfesso
que o resto do corpo
adivinha.
Olhos são, de carne,
e têm pupilas
que gostam, apenas,
de provar.
Cegos se abrem, sempre,
num pestanejo,
húmido,
de sombras
e salivam luz
quando te beijo!.
Da Voz ao GritoNa topografia da alma
a voz
que é senhora das imagens,
um regaço passageiro de sons,
um perfume
que nos seduz ou nos repele;
um afago de pluma
ou um gume de faca,
deixando sempre
a marca
em sulcos rubros na pele
ou na languidez branca
e húmida da espuma.
Lugar de sonhos sempre,
onde avançam,
em labareda ou onda,
as fantasias mais intimas
ou plurais,
e solta-se ubíqua
em cânticos e corais,
com asas brancas e cornos à mistura,
no coração do Homem,
elevando-o em pequenos êxtases
quotidianos e banais
ou em voos quase verdadeiros
porque universais.
Mão que se estende
ou grito,
em braços se faz
ou se desfaz.
De um profeta mudo
ecoa
na terra chã do peito,
onde em bando aberto
se revela o ser
no ódio ou no amor,
sendo artificio longe da boca
que se sorve sempre
antes de a ver !.
biografia:
Nota de Apresentação
José Dias Egipto, pseudónimo literário de José Carlos Pacheco Palha. Médico pediatra residente em Gaia, Portugal. Tem quatro livros publicados [ensaio, poesia e conto]. É membro da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos bem como da sua congénere brasileira. Participou já em várias Antologias em Portugal e no Brasil. É membro correspondente da Academia Brasileira de Poesia.
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