Escondedouro do amor
O amor não está na estrela
que, ao cair, carrega o pedido sussurrado,
ele está no olhar que a percebe e espera.
Não, o amor não está nas cartas
lançadas por mãos sobre mesas postas,
ele está na tensão de quem as ouve e deseja.
Búzios, números e datas
não contêm o amor,
ele não está numa procura.
Rezas, promessas e velas
não trazem o amor,
só a esperança de encontrá-lo.
Mas, ninguém encontra o amor,
ele é, misteriosamente, despertado
num momento de distração e abandono.
DESESPERANÇA
Visto-me de tua ausência
E cada distância é o teu sorriso
E toda lembrança é o impossível
De ter-me, de novo, em teu olhar.
Outro soneto que não queria existir
Outras tardes morrem como outras noites,
E o retorno, aquele, o prometido,
Ainda não cumprido, são estas foices
Que a meu corpo retalham, indevido.
Esta terna dor não cabe em meu poema,
Teorema difícil, não respondido,
Desespero de amar enlouquecido,
E saber-se sempre num só dilema:
Amar-te e sofrer um desamparo ou,
Sem ti, seguir uma vida que acabou?
Como? Por que algo tão intenso termina?
A mim, restaram, Amor, estas rimas,
Mas não sou eu o condenado por te amar,
E sim tu a quem o amor não contamina.
biografia:
Nívia Maria Vasconcellos nasceu em Feira de Santana, Ba, em 1980. Em 2002, publicou o livro de poesias Invisibilidade pelo MAC [Museu de Arte Contemporânea/FSA]. Formou-se em Letras Vernáculas na Universidade Estadual de Feira de Santana [UEFS] em 2004. É especialista em Estudos Literários e, atualmente, é mestranda em Literatura e Diversidade Cultural também pela UEFS. Lançou, em 2006, o livro de contos ... para não suicidar. Além de poetisa e contista, é ensaísta, professora de Literatura, Língua Portuguesa e Redação e é integrante do grupo de declamação OsBocasDo Inferno, com o qual já se apresentou em vários estados do Brasil.
niviamvasconcellos@hotmail.com